A intenção deste estudo é utilizar o conhecimento anatômico e fisiológico para aprofundar o conhecimento de nós mesmos. O hatha yogi utiliza o corpo como seu instrumento para o autoconhecimento, iremos estudar este instrumento para aprofundarmos nosso nível de consciência em relação ao corpo e, dessa forma, aproveitarmos melhor o tempo dedicado às técnicas físicas.

Ao conhecer melhor seu corpo, você conhece melhor sua história de vida, pois ela está escrita na sua postura e na forma como você se movimenta. Através da prática de ásanas queremos reescrever determinadas partes dessa história. A transformação da postura física produz uma transformação da postura interior em relação à vida. Queremos o corpo livre de tensões e condicionamentos para usufruirmos de uma boa prática.

O maior objetivo aqui é a conscientização durante a prática para evitar lesões, dessa forma seguindo o princípio ahimsa (não-violência), e produzir resultados de transformação. Através das técnicas expostas é possível chegar a nível de maior conforto corporal que é essencial para as práticas de ásana, pránáyáma e meditação.

Vamos começar com ossos, músculos e articulações, para que você possa entender como proteger suas articulações durante a prática de ásana.

Os ossos são estruturas passivas, dão estrutura e proteção ao corpo (exemplo: caixa torácica e crânio), além de produzirem as células vermelhas do sangue, são os responsáveis por produzirem movimento através de alavancas guiadas pelos músculos esqueléticos.

Os músculos esqueléticos são conectados aos ossos através dos tendões, cruzam as articulações e guiam os movimentos corporais. Estes para se manterem saudáveis e livres de lesões, devem ter em equilíbrio entre as suas qualidades de força e flexibilidade.

O movimento acontece quando um músculo se contrai e os ossos se aproximam (geralmente um osso fica fixo, ou seja, origem do músculo, e o outro se move em direção ao osso fixo, sendo chamado de inserção do músculo).

Todos os músculos são cobertos por uma membrana chamada fáscia, esta membrana separa os músculos em grupos e entre eles existe um líquido. Este líquido tem a função de fazer com que os músculos deslizem uns sobre os outros dando mobilidade ao corpo. As extremidades dos músculos são definidas pelos tendões que se conectam aos ossos. Os tendões são formados por um tecido fibroso, por isso, eles têm menos flexibilidade que os músculos, se alongando somente 4% de sua estrutura.

Para que o movimento aconteça, existem as articulações. As articulações são as junções entre um osso e outro. Seus componentes são ossos, músculos, tendões e ligamentos. Os ligamentos são como os tendões, estruturas fibrosas, que também se alongam somente 4%. Os ligamentos são super importantes para dar firmeza e estabilidade às articulações e tem a característica de se alongarem, mas não se retraem novamente. Por isso, todo o alongamento que queremos obter deve ser feito na gema do músculo, ou seja, no centro do músculo e não perto das articulações. Pois uma vez que o tendão ou o ligamento é excessivamente alongado, ele não volta ao tamanho normal, produzindo instabilidade na articulação. Caso isso aconteça, é muito importante então fortalecer os músculos que envolvem essa articulação. Infelizmente temos a idéia de que para ser um “bom yogi”, temos que ser flexíveis, mas flexibilidade excessiva pode ser prejudicial à saúde, pois instabilidade nas articulações produz lesões com o tempo inevitavelmente.

Os músculos, para efetuarem todas suas funções, devem ser fortes e flexíveis podendo assim proteger as articulações. Um músculo somente flexível não é saudável, pois não sustenta adequadamente os ossos. Os ossos são passivos e dependem totalmente dos músculos para produzirem movimentos e serem sustentados. Então tenha em mente que os músculos devem sustentar os ossos e não o contrário, os músculos ficarem “pendurados” nos ossos.

Percebemos então que é muito importante o equilíbrio entre força e flexibilidade. Para conseguir manter esse equilíbrio, ao praticar observe que regiões do corpo você é bastante flexível, e então equilibre esta flexibilidade trabalhando a força, e vice versa, para que seus músculos e tendões continuem protegendo suas articulações, cumprindo sua verdadeira função.

Para isso durante a prática é preciso de muita atenção e consciência. Tendemos a trabalhar o corpo da maneira que ele está acostumado e que é mais fácil para nós. Perceba sua tendência de ficar mais tempo na postura do lado que é mais fácil e como você gosta de fazer aquilo que já está acostumado. Observe suas facilidades e trabalhe sobre as dificuldades. Devemos trabalhar tapas (esforço sobre si próprio), deixando o ego do lado de fora para não ultrapassarmos nossos limites. Lembre-se que colocar o pé atrás da cabeça não significa evolução, mas se observar e saber trabalhar seu corpo da melhor maneira possível pode ser um grande passo em direção ao objetivo do yoga. Observando-se e aceitando aonde você se encontra agora.

Fonte: Dharmabindu