Yamas e Nyamas é o início da caminhada rumo ao yoga, rumo a emancipação. Reforçar a importância dos valores éticos – Yamas e Nyamas – como forma imprescindível para alcançar a felicidade plena,  se tornou indispensável no ensino do yoga contemporâneo, pois orientam nossa  conduta pessoal e social e mostram  como nossos  pensamentos e ações  trazem implicações a nós mesmos.

No hinduísmo, a ética se chama Dharmashastra, é a ciência da justiça humana e divina. É um sistema que formula linhas  para nos ajudar a decidir entre o bem e o mal, o certo e o errado. Patanjali chama de Sarvabhauma- valores  supremos ou universais, pois valem para todas as pessoas e em todas as circunstâncias.

Segundo Taimini, o principal objetivo dos yamas e nyamas é eliminar todas as perturbações mentais e emocionais, que caracterizam a vida de um ser humano comum. Nenhuma libertação de perturbações emocionais torna-se possivel até as tendências abordadas em yamas e nyamas sejam pelo menos suficientemente dominadas.

Ódio, desonestidade, fraude, sensualidade e possessividade são alguns vícios comuns e “inerentes” a raça humana e enquanto o ser humano estiver sujeito a esses vícios sejam em suas formas densas, sejam em formas sutis, sua mente permanecerá vítima de distúrbios emocionais violentos ou dificilmente perceptíveis, que em última análise tem origem nesses vícios.

Já Dalai Lama afirma que estes estados mentais negativos não são uma parte intrínseca da mente humana, por isso podem ser eliminados! Essa percepção enfraquece seu poder, nos dá esperança e aumenta o compromisso de eliminá-los.

Os Yamas e Nyamas constituem os dois primeiros estágios do Ashtanga Yoga de Patanjali e em síntese podem ser entendidos como:

1 – YAMAS – refreamento

2 – NYAMAS – disciplina

3 – ASANAS –  posturas fisicas e mentais

4 – PRANAYAMAS – exercícios respiratórios

5 – PRATYAHARA – dominio dos sentidos

6 – DHARANA – concentração

7 –  DHYANA –  meditação

8 – SAMADHI –  Iluminação, liberdade do sofrimento

Em Sintese os dois primeiros “angas”:

YAMAS – controle , domínio, refreamento. São de maneira geral proibitivas e morais. Compõem  esse anga  cinco qualidades morais, a saber:

1 – Ahimsá – Não violência.

Não violencia física, mental, emocional, por palavras, gestos, ações, pensamentos contra a si próprio,  contra os outros e o mundo.

O Cultivo da não violência em relação a si próprio é essencial para que a não violência em relação ao mundo possa de fato tornar uma realidade.

2 – Satya – verdade.

Cultivar a verdade, não mentir.  Ser verdadeiro  nos pensamentos, sentimentos palavras e ações. Taimini comenta que a mentira cria uma espécie de tensão mental que nos impede de harmonizar e tranquilizar a mente.

3 – Asteya – Não roubar, não cobiçar ou invejar bens e conquistas dos outros.

Não é apenas não roubar, mas eliminar totalmente o impulso de se apoderar de objetos ou idéias alheias, é a abstenção dessas tendências, mesmo que em pensamentos

4 – Brahmacharya – moderação dos sentidos, foco, celibato, parceiro fixo, não desvirtuar a sexualidade.

Para Iyengar  a prática de brahmacharya é ver o sagrado em todas as coisas. Brahmacharya também pode ser visto como moderação dos sentidos . Quando os sentidos estão esparramados, estamos fora de nosso centro. A busca incessante pelo prazer nas coisas que estão fora de nós, nos afasta da nossa natureza.

5 – Aparigraha – não possessividade.

Abstenção da ganância e do ato de acumular. Aparigraha não significa que tenhamos de banir nossos desejos e aspirações e nos livrarmos de nossas posses para sermos felizes. O problema é o vício em possuir mais e mais e nunca estar satisfeito com o que se tem e a constante preocupação em manter, não perder, aquilo que se tem

NYAMAS – são disciplinares e construtivos, e em numero de cinco elementos

1 – Saucha – Pureza, purificação.

Segundo Swami Dayananda mestre de Vedanta, Saucha se divide em:

Pureza física externa – manter a higiene pessoal, ambiental. Corpo limpo, roupas limpas, casa limpa fazem a vida mais agradável, além de produzir uma certa atenção e vivacidade na mente.

Pureza interna – significa limpeza da mente.

O que é limpeza da mente? O que torna uma mente impura?

Cíúmes, raiva, zanga, medo, egoismo, vaidade, autocondenação,culpa, orgulho,possessividade, todas estas reações negativas e o clima de ressentimentos e desespero que surge da produção das impurezas da mente.

Como limpar a mente?

Patanjali diz : Pratipaksha bhavana..

prati – oposto;

paksha – posição, ponto de vista;

bhavana – pensar ou estado de pensar;

Pratipaksha Bhavana é tomar deliberadamente o ponto de vista oposto, por vontade própria. Pensar o oposto, por vontade própria . Pensar o oposto de pensamentos impuros. Todos os hábitos tem suas raízes nos maus hábitos pensamentos e atitudes.

2 – Santosha – Contentamento

É a capacidade de manter-se satisfeito aconteça o que acontecer. Segundo Taimini é uma condição extremamente positiva e dinâmica da mente.  Marcos Rojo afirma: “é dar valor ao que se tem e não ficar olhando o que está faltando”.

3 – Tapas – Determinação

Ascese, calor, força de vontade, esforço para alcançar um objetivo.

Esforço envolve intensidade e persistência.

“O esforço conduz à realização”

4 – Swadhyáya – auto estudo

Auto estudo e estudo das escrituras. É o estudo da metafísica do yoga e de si próprio, abrange não apenas o autoconhecimento obtido através da reflexão sobre a sabedoria das escritura mas a aplicação prática desse conhecimento.

O Swádhyaya alarga os horizontes do intelecto, enriquece e estimula a prática.

5 – Iswara Pranidhana – Entrega

É interpretado como entrega a Deus e pode ser vista como um ato de entrega, a algo maior que si próprio.

Significa fazer o melhor que podemos, sabendo que o final não está em nossas mãos. Se aproxima muito do conceito de fé Exposto por Alexander Lowen: “A fé é uma qualidade do ser de estar em contato consigo mesmo, com a vida e com o universo. É uma sensação de pertencer a uma comunidade, a um país e à terra. acima de tudo é a sensação de estar assentado no próprio corpo, na própria humanidade e na sua própria natureza animal. Ela pode ser todas as coisas porque é uma manifestação da vida, uma expressão da força vital que une todos os seres.”

Namastê!

Ana Cristina da Luz.

Fonte: Kupfer, Pedro. Guia Prático. 2000; Taimini. A ciencia do Yoga,2004. FeursteinGeorgeA tradiçao do yoga, 1998. SachidanandaOs sutras de Patanjali.1990. DayanadaSaraswatiValor dos valores. 1998. Dalai Lama e Cutler,Howard. A arte da felicidade,2000.